Sem perceber como ou porquê, surgem-me lembranças que mais preferia não ter. São pequenos pormenores, teus e meus, de quem privou. Como o toque da tua pele que ainda está bem aqui na ponta dos meus dedos. Uma pela lisa que impelia ternura e carinho, como não é comum ver-se num homem. Sei-te de cor. Já dizia a canção. É mesmo verdade que quem ama reconhece cada traço do corpo. Todos os dias contornei todo o teu rosto, todas as tuas expressões. Sei de cor os teus olhos, o tom do teu cabelo, o seu cheiro e a maneira como o fazias todas as manhãs. A tua barba apenas aparada que me levava à loucura. Mãos longas, delineadas e magras, onde cabiam perfeitamente as minhas. Braços torneados perfeitos no nosso abraço. Tantas vezes me deixas-te descansar no teu peito e eu percorri-o de cima a abaixo. Mapeei as tuas costas para nunca me perder ou confundir caso algum dia me fosse impossível te ver. Perdi horas de sono tracejando invisivelmente com os meus dedos o teu rosto. Tinhas tudo para ser perfeito. O teu corpo transpirava segurança e amor. Achei que me ia perder para sempre na tua pele e rendi-me. Amei-te sem senão. Prendi-me a ti como julgava que estavas preso a mim... Mas tu apenas me vestiste com a tua pele. E no dia em que me disseste adeus, destapaste-me... e mesmo hoje, ainda não aprendi a ter de viver só com a minha.
4 comentários:
Digo-te o que me vai na alma pá? Digo-te que já vai tempo de comprares um casaquito e tapares a tua pele, essa sim perfeita e que nunca deixará de proteger-te do frio!
Mais um texto lindo e profundo.
Sem palavras Cat, dizes tudo.
Beijão
Adorei este texto e infelizmente compreendo-o muito bem...
Também ainda não aprendi a viver só com a minha mas adorava conseguir... está difícil.
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